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ago
Política, soberania e Reino de Deus: como enxergar o cenário atual à luz da Bíblia
Nos últimos anos, o debate político no Brasil se intensificou. Redes sociais se tornaram arenas onde opiniões se chocam, paixões se inflamam e alianças improváveis surgem. Um fenômeno curioso me chama bastante atenção: a admiração de parte da direita brasileira pelos Estados Unidos, vistos por muitos como símbolo de liberdade, prosperidade e fé cristã. Ao mesmo tempo, mesmo naqueles que são “fãs de carteirinha” cresce a preocupação com ações de “lá e de cá” e tudo isso com as interferências externas, o que toca de forma forte a soberania nacional. Sempre me pergunto: diante desse cenário, para quem segue a Cristo: como interpretar tudo isso biblicamente?
Muitos (talvez quem esteja lendo este artigo) podem pensar “acriticamente” e aceitar de bom grado qualquer coisa que os EUA façam, mas a Bíblia adverte o povo de Deus sobre confiar em alianças humanas em vez de confiar no Senhor. O profeta Isaías denunciou Israel por buscar ajuda militar do Egito, ignorando a proteção divina:
“Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro, que confiam em cavalos e põem sua esperança em carros numerosos e cavaleiros muito fortes, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam o Senhor!” (Isaías 31:1)
Hoje vemos cristãos colocando esperança excessiva em potências estrangeiras, seja idealizando os EUA ou demonizando outras nações. Essa postura pode se transformar em idolatria política: quando nossa confiança se desloca de Deus para um sistema humano ou para um país específico. Jeremias 17:5 nos lembra:
“Maldito é o homem que confia no homem, que faz da humanidade mortal a sua força e cujo coração se afasta do Senhor.”
Deus é quem estabelece fronteiras e tempos dos povos: “De um só fez todos os povos para habitarem toda a face da terra, tendo determinado os tempos anteriormente fixados e os limites da sua habitação.” (Atos 17:26)
Isso mostra que a soberania das nações não é irrelevante diante de Deus. Ele valoriza identidades e fronteiras, e chama governantes a governarem com justiça (Romanos 13:1‑4). Assim, enquanto admiramos o que é bom em outras culturas, também devemos zelar pelo nosso país, orando e agindo para que princípios de justiça e dignidade sejam respeitados. O problema surge quando confundimos amor à pátria com absolutização política, esquecendo que nosso maior chamado é ao Reino eterno.
Jesus deixou claro que o reino dele não é deste mundo: “O meu Reino não é deste mundo.” (João 18:36)
Isso não significa que o cristão deva ignorar a política, mas que nenhum sistema humano pode representar plenamente o Reino de Deus. Todos os reinos da terra são temporários e limitados; o Reino de Cristo é eterno. Por isso, a Bíblia nos chama a viver como cidadãos celestiais:
“A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3:20)
Isso deveria nos proteger de paixões cegas e polarizações tóxicas. Podemos participar da sociedade e buscar o bem comum, mas sem perder de vista que nossa lealdade última é a Cristo. Você tem sido leal a Cristo em primeiro lugar? Se a resposta depender de sua atuação política-partidária-polarizada, sinto muito em dizer, mas isso não é buscar a Cristo em primeiro lugar. E nem adianta falar que quem não se manifesta a favor de um ou outro é “isento” e incoerente. A coerência, para o Cristo, tem a ver com Cristo, seu reino, sua vontade, seus planos e seus propósitos.
Vale lembra que, ao longo da história bíblica, profetas denunciaram injustiças tanto dentro do povo de Deus quanto nas nações vizinhas (Amós 1‑2). A questão aqui não é se segue minha ideologia ou é contrária a ela, mas de ouvir Deus e saber o que deve ser feito em prol do Reino de dele (e não do reino desta terra!). Esta é a postura que a igreja é chamada a ter hoje: não se alinhar cegamente a ideologias, mas discernir e anunciar a verdade com coragem e humildade.
Isso significa:
- Reconhecer virtudes e erros em todas as nações;
- Confrontar injustiças, mesmo quando praticadas por quem admiramos;
- Relembrar que nossa missão é reconciliar pessoas com Deus, não ganhar guerras ideológicas.
Como viver essa realidade no dia a dia? Essa pergunta me faço todos os dias. Tenho alguns critérios que julgo serem importantes, mas que podem não se adaptar a você. Fique à vontade.
Discernir antes de compartilhar: Nem tudo que circula nas redes sociais é verdade. Verifique antes de postar, para não contribuir com desinformação (Provérbios 12:19).
Orar por governantes: A Bíblia nos orienta a interceder “por todos os que exercem autoridade” (1 Timóteo 2:1‑2), independentemente do partido ou ideologia.
Praticar mansidão: Pedro nos exorta a responder com mansidão e respeito àqueles que perguntam sobre a nossa esperança (1 Pedro 3:15).
Manter foco no evangelho: Nosso testemunho não deve se confundir com disputas políticas; o centro da mensagem cristã é Cristo crucificado e ressurreto.
Ser sal e luz: Em meio à polarização, oferecer uma alternativa de paz, esperança e verdade (Mateus 5:13‑16).
Que a igreja no Brasil seja conhecida não por repetir slogans políticos, mas por manifestar o caráter de Cristo: amor, justiça, verdade e humildade. No fim, não serão os EUA, nem o Brasil, nem qualquer outro país que trará redenção, mas o Cordeiro de Deus, que governa sobre todas as nações.
Prof. Gedeon Lidório
Teologia, Antropologia, Filosofia e Psicanálise
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br
Site: www.gedeon.lidorio.com.br
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